31 de Julho de 2009. Dizem que não fazia tanto frio em Satolep desde 1975. São respeitáveis trinta e quatro anos. Guiada não por este dado histórico e meteorológico, mas muito mais pela sensação de frio, lembrei do dia em que nasci.
Minhas lembranças deste dia são narrativas que venho escutando desde então e somadas a elas, minha imaginação elabora detalhes, colore cenas. Tais narrativas são tão audíveis que basta ser inverno que me ponho a nascer de novo.
***
Lembro sempre de uma foto tirada em 29 de Maio de 1979. Nela, minha mãe figura comigo nos braços. Está segura, me deixando levemente arqueada para frente para que eu pudesse ser bem apreciada. Os cabelos dela incrivelmente escovados, e seu corpo enrolado por um chambre que iria desbotar ao longo dos invernos de minha infância. Minhas duas irmãs vestidas com o uniforme do colégio deixaram as aulas para me conhecer e de fora dos enormes ponchos, apenas seus rostos com pares de olhos inquietos e curiosos. Não me recordo se meu pai tirou a foto ou se está nela. Em todo o caso, é bem possível que ele estivesse encasacado, mas não muito mais do que isso. Talvez por não sentir tanto frio ou de repente, por tentar conviver pacificamente com ele sem ter de enfrentá-lo, combatê-lo. Eu sou a menor na foto, estou de casaco e calça de tricot de lã verde que me caem bem. Tenho as bochechas rosadas e cabelos fartos escuros. Apesar do frio daquele dia, todos na foto parecem quentinhos, não há expressão de incômodo, ao contrário, há conforto e uma idéia de movimento. Acredito que o movimento tenha sido mais do que uma idéia passada pela imagem registrada, afinal, a família mudara naquela manhã.
Mudança fala de movimento. E movimento pode querer dizer mais do que mudar de posição. A gente realmente pode, ao se movimentar, olhar de tantos outros modos possíveis, novos e diferentes. Depende um tanto das escolhas que fazemos.
***
Frio. Movimento.
Para mim uma relação natural. Desde a paisagem que se altera drasticamente no inverno, passando pelo gato arisco que pula para se aninhar no colo, sem esquecer das inúmeras idas a cozinha em busca de chás, molhos, temperos, sabores e cores para aquecer o corpo e fazer benfeitorias a alma.
Pois foi em 31 de Julho de 2009, no dia mais frio do que todos os outros que já presenciei em vida, que me deparei com mais um grande movimento, tão previsto e inevitável quanto à queda de temperatura neste inverno soberano. E por revelar-se mais um tanto de si, ganhou nome próprio. Chama-se Maísa.
Minhas lembranças deste dia são narrativas que venho escutando desde então e somadas a elas, minha imaginação elabora detalhes, colore cenas. Tais narrativas são tão audíveis que basta ser inverno que me ponho a nascer de novo.
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Lembro sempre de uma foto tirada em 29 de Maio de 1979. Nela, minha mãe figura comigo nos braços. Está segura, me deixando levemente arqueada para frente para que eu pudesse ser bem apreciada. Os cabelos dela incrivelmente escovados, e seu corpo enrolado por um chambre que iria desbotar ao longo dos invernos de minha infância. Minhas duas irmãs vestidas com o uniforme do colégio deixaram as aulas para me conhecer e de fora dos enormes ponchos, apenas seus rostos com pares de olhos inquietos e curiosos. Não me recordo se meu pai tirou a foto ou se está nela. Em todo o caso, é bem possível que ele estivesse encasacado, mas não muito mais do que isso. Talvez por não sentir tanto frio ou de repente, por tentar conviver pacificamente com ele sem ter de enfrentá-lo, combatê-lo. Eu sou a menor na foto, estou de casaco e calça de tricot de lã verde que me caem bem. Tenho as bochechas rosadas e cabelos fartos escuros. Apesar do frio daquele dia, todos na foto parecem quentinhos, não há expressão de incômodo, ao contrário, há conforto e uma idéia de movimento. Acredito que o movimento tenha sido mais do que uma idéia passada pela imagem registrada, afinal, a família mudara naquela manhã.
Mudança fala de movimento. E movimento pode querer dizer mais do que mudar de posição. A gente realmente pode, ao se movimentar, olhar de tantos outros modos possíveis, novos e diferentes. Depende um tanto das escolhas que fazemos.
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Frio. Movimento.
Para mim uma relação natural. Desde a paisagem que se altera drasticamente no inverno, passando pelo gato arisco que pula para se aninhar no colo, sem esquecer das inúmeras idas a cozinha em busca de chás, molhos, temperos, sabores e cores para aquecer o corpo e fazer benfeitorias a alma.
Pois foi em 31 de Julho de 2009, no dia mais frio do que todos os outros que já presenciei em vida, que me deparei com mais um grande movimento, tão previsto e inevitável quanto à queda de temperatura neste inverno soberano. E por revelar-se mais um tanto de si, ganhou nome próprio. Chama-se Maísa.
Que sensação bonita...sabe quando a gente lê um texto e se vê dentro dele, por identificação? Aqui foi tudo duplo...sou uma das garotas da foto, uma das meninas quentinhas e que teve nesse dia uma das melhores experiências de sua vida! Lindo o texto, linda a imagem também!
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