sexta-feira, 30 de julho de 2010

Ta aí o Jardineiro, cultivando sua mais nova Florzinha...

27/02/2009, presente de aniversário para o meu pai

Em mais uma primavera a ser vivida, tens diante de teus olhos um jardim frondoso.

Ouvimos que ele antes foi um sonho, talvez uma imagem dessas que temos quando descobrimos que podemos sonhar de olhos abertos. Tuas histórias contam que as mangas foram arregaçadas e assim as primeiras sementes foram plantadas. Na verdade se olharmos bem, as sementes já estavam ali. Um senhor com o mesmo teu nome tinha se encarregado do plantio delas e passou dicas preciosas sobre como adubar, semear, regar, colher, podar, iluminar, cuidar... Jardineiro astuto este senhor que ensinou tanto sobre o amor.

Para a frente é que se anda e no teu caminho, uma Violeta. Sabe-se que a lindinha colore e enfeita qualquer ambiente, desde que sejam atendidas suas necessidades, seus desejos. Somadas as vontades da dupla em questão, foram em busca do solo e com amor o prepararam para receber Girassol. Planta utilíssima, dela são ricas as sementes, as flores e os ramos. Voltada para o sol e da cor dele acrescentou mais vida e dinamismo ao jardim em formação. Para contrastar com o amarelo veio o verde da Avenca. Nela estão estampadas a delicadeza e a docilidade que provocam admiração mas não deixam de exigir cuidados especiais para bem se desenvolver. O tempo passou e em um inverno rigoroso floresceu a Azaléia. Típica do frio, enquanto muitas plantas repousam ela dá a sensação de vida, de energia.

Girassol, Avenca e Azaléia. Para manter seu crescimento nunca se teve notícia de um jardineiro tão zeloso. Atento as mudanças que vem com o passar do tempo, ele sempre esteve empenhado em buscar o clima mais adequado para o cultivo delas, mostrando que cada uma tem seu ritmo, sua maneira e que todas terão seu lugar ao sol. Sim, é preciso lutar por seu espaço, mensagem essa que entusiasma a todos. Nosso jardineiro acredita em campos vastos onde todos darão frutos. E, como todo o criador, ele possui expectativas, estas as melhores possíveis. Segundo sua crença, cada planta que há no mundo está sendo o melhor que ela pode ser por isso é importante que olhemos para o seu colorido e não para a falta de viço.

Minúcias, detalhes, aromas e uma qualidade incrível de espécies diferentes são muito bem recebidas em seu jardim. Dentre essas espécies estão a Figueira, árvore com grande capacidade de adaptação, na sua sombra se cultivam a paciência e o descanso. Nosso artista do verde foi aprendendo com ela que pode achar tempo e cumplicidade para um bom papo. Com o Plátano - magestoso, com vontade própria e gosto por marcar seu território - a semelhança está em ficar a mostra. Em todas as estações do ano lá estão como são: honestos, dedicados, espontâneos e íntegros.

Após inúmeras primaveras e nelas tanto aprendizado, nosso jardineiro tem feito o trabalho de um meticuloso arquiteto paisagista. Do bolso de seu avental saem recortes, surpresas, imagens, gravuras e pedaços de papel escritos a lápis, pequenos lembretes que guardam seus planos para novas e intrigantes composições.

Vida longa a esse profissional do zelo que nos parece um Salso Chorão, tanto corremos para chorar as mágoas com ele no inverno como nos deleitamos sob a brisa que bate em suas folhas no verão.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Teu olhar me atravessou inteira

Um pensamento ligeiro me pegou:
Pena que falta tanto pro Fevereiro!

Largaríamos tudo
O telefone fora do gancho durante dias
E nós dois amanhecendo
Uma manhã atrás da outra
Pulando carnaval

28/07/2010

terça-feira, 27 de julho de 2010

Um Julho desses...


31 de Julho de 2009. Dizem que não fazia tanto frio em Satolep desde 1975. São respeitáveis trinta e quatro anos. Guiada não por este dado histórico e meteorológico, mas muito mais pela sensação de frio, lembrei do dia em que nasci.
Minhas lembranças deste dia são narrativas que venho escutando desde então e somadas a elas, minha imaginação elabora detalhes, colore cenas. Tais narrativas são tão audíveis que basta ser inverno que me ponho a nascer de novo.

***

Lembro sempre de uma foto tirada em 29 de Maio de 1979. Nela, minha mãe figura comigo nos braços. Está segura, me deixando levemente arqueada para frente para que eu pudesse ser bem apreciada. Os cabelos dela incrivelmente escovados, e seu corpo enrolado por um chambre que iria desbotar ao longo dos invernos de minha infância. Minhas duas irmãs vestidas com o uniforme do colégio deixaram as aulas para me conhecer e de fora dos enormes ponchos, apenas seus rostos com pares de olhos inquietos e curiosos. Não me recordo se meu pai tirou a foto ou se está nela. Em todo o caso, é bem possível que ele estivesse encasacado, mas não muito mais do que isso. Talvez por não sentir tanto frio ou de repente, por tentar conviver pacificamente com ele sem ter de enfrentá-lo, combatê-lo. Eu sou a menor na foto, estou de casaco e calça de tricot de lã verde que me caem bem. Tenho as bochechas rosadas e cabelos fartos escuros. Apesar do frio daquele dia, todos na foto parecem quentinhos, não há expressão de incômodo, ao contrário, há conforto e uma idéia de movimento. Acredito que o movimento tenha sido mais do que uma idéia passada pela imagem registrada, afinal, a família mudara naquela manhã.
Mudança fala de movimento. E movimento pode querer dizer mais do que mudar de posição. A gente realmente pode, ao se movimentar, olhar de tantos outros modos possíveis, novos e diferentes. Depende um tanto das escolhas que fazemos.

***

Frio. Movimento.
Para mim uma relação natural. Desde a paisagem que se altera drasticamente no inverno, passando pelo gato arisco que pula para se aninhar no colo, sem esquecer das inúmeras idas a cozinha em busca de chás, molhos, temperos, sabores e cores para aquecer o corpo e fazer benfeitorias a alma.
Pois foi em 31 de Julho de 2009, no dia mais frio do que todos os outros que já presenciei em vida, que me deparei com mais um grande movimento, tão previsto e inevitável quanto à queda de temperatura neste inverno soberano. E por revelar-se mais um tanto de si, ganhou nome próprio. Chama-se Maísa.

A primeira carta a ele


Arrisco
porque sabes que adoro correr riscos
e experimentar esse amor diferente de
outros que já tive.

É melhor do que Skol,
chocolate,
sentar na grama em dia de sol,
dançar sozinha em casa,
bater papo por horas,
passar um dia inteiro com
minha mãe e minhas manas
em dia de show do Nando Reis.
Melhor ainda do que
ouvir Djavan e comer Brócolis,
ações tão complementares...

Enfim...
És a melhor de todas as melhores coisas
em minha vida...

Te agradeço.
Sigamos em frente.
Felizes,
pra sempre por enquanto.

Por enquanto e pra sempre.
Mudei a minha velha máxima.
Isso se deve ao otimismo que
só os apaixonados tem.
Fé na gente.

Escrito em algum momento do mês Outubro no ano de 2003...

Nós dois como gatos no telhado do mundo e pela frente só milênios de risada gargalhada
Não tinha reparado que as nuvens se movem
como que de mãos dadas.
Só é possível apreciar movimento tão lindo
quando passo algum tempo comigo.

Tenho em mim um céu azul que anda.
Que doce perturbar,
a ventania nos pés não cessa de trazer o que foi
e o que não é ainda.

Estranho esse novo deleite de me alcançar...

09/12/2008

Elas

marrom, bege, branco
tom sobre tom
riso com riso

de colo em colo

lua, sol, entardecer
momentos bem definidos
distâncias infinitas

amores desmedidos

casa, pátio, quarto
lugares que passam
outros que ficam

em garoas finas

se migram
se afligem
se buscam
se escondem

três vértices
de um ângulo que desliza

16/09/2008

Do almoxarifado II

O sorriso foi trocado pelo silêncio e isso é tudo. Mesmo procurando não se encontram detalhes que expliquem a troca. Ouve-se nenhum som. O papel repousa só, em branco. As pernas teimam em ficar na horizontal. As mãos ajustam as vendas nos olhos alheios. Como pode o vazio não conter nada se ele só contém ar? Ora, ar nesses tempos é farto.

Ele ocupa espaços como um porto cheio de embarcações e nelas moram bagagens imóveis de desassossego que de tão sossegado cerra os dentes, abafa a alma.

21/01/2009

Do almoxarifado I

nodo

soterrei-me nas cenas que montei
sou eu a protagonista
reclamei que foram injustos,
que estão desatentos
agora me vejo presa ao contentamento
dado pelas armadilhas que construí com tanto cuidado

o novelo não se desenrola sem que se puxe a ponta

30/10/2008

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A procissão dos aguapés


fosse um rito fúnebre
fosse uma outra celebração
era sublime

vê-los rumando, partindo
verdadeiros tapetes verdes
onde a Garça e o João de Barro
pegam carona

no teu lado
pingos cada vez mais espessos
formam um petit pois cinza

no meu não pinga
mas também não brilha
quase posso ver o azul
em fendas

e nós
nós seguimos indo
feito eles
feito o que éramos
feito o que já não somos mais

24/07/2010