Nessas coisas tão corriqueiras
como ir ao supermercado fazer as compras do mês
em meio a vasta oferta de marcas de sabonete
peguei um, qualquer um, com pressa... um muito conhecido e antigo no mercado sem fazer idéia do que isso provocaria em mim...
Meu avô sempre foi muito dado a limpeza. Seus hábitos de higiene viraram folclore na família. Quando ele rumava para o quarto de banho era certo que horas passariam até que ele saísse.
Cheiroso, vaidoso, cheio de manias.
Assim era meu avô.
Mas para bem além das manias de higiene, lembro muito da paciência dele.
Porque há de se ter muita paciência com netos, ainda mais se são três e meninas.
Ele tinha um escritório e trabalhava como despachante na época em que convivemos e contava as mais variadas histórias sobre seus empregos. Acontece que olhando para trás o vejo como um antropólogo talentoso que adorava o trabalho de campo.
Pequena, eu passava muitas tardes com ele andando pela cidade. Se fossemos longe dos arredores de sua casa, pegávamos um ônibus e andávamos até o final da linha. Eu ia sentada no banco da janela, atenta, curiosa, eufórica. Por vezes, ele me contava muitas coisas e noutras, calava e me deixava livre para contemplar o que eu bem quisesse.
Aprendi que avô é aquele que possibilita sonhar, que encoraja a magia, a imaginação, as luzes. Minha primeira vez numa sala de cinema foi acompanhada dele que fez questão de me apresentar para uma tela que ainda hoje é grande, mas naquele tempo, era imensa e lá estava ele com sua risada gostosa, os olhos fechando quando ria - como os meus - e a mão firme segurando a minha.
Minha avó, longe dele há tanto tempo, conta como se fosse agora o dia em que se conheceram. Ele, um louco apaixonado, andando atrás dela pela rua durante dois dias seguidos. Amor à primeira vista o dele. Com a permissão de meu bisavô o namoro começou e essa união durou até que a morte dele os separou. Bem, ele parecia amá-la instantaneamente desde que a viu na rua, mas e ela? Minha avó confessa que de imediato sentiu medo, mas logo dá um suspiro profundo e diz “puxa vida, ele foi a melhor coisa que me aconteceu na vida”. Compreendo quase que perfeitamente sua saudade e a inevitável vontade de reencontrá-lo, se bem que, pelo jeito, ele está sempre perto dela...
Gosto de pensar que ele está perto de mim também. De minhas irmãs, de meu pai, e até de minha filha que ele não conheceu. O sabonete comprado tão sem querer, justamente um dos seus prediletos, foi uma bela surpresa. Lá estava meu grande e amado avô, seu cheiro em minha casa e eu completamente em paz.
Salve.
18-10-2010.
O cheirinho chegou aqui. Acompanhando o olho marejado... bjos ;)
ResponderExcluirÉ, uma espuminha no olho numa hora dessas... disfarça bem.
ResponderExcluirlindo aninha! me fez lembrar dos meus avôs... bom demais
ResponderExcluircomentários preciosos!!!!!
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